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Maior fabricante de cimento do mundo anuncia que deixará o Brasil

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Maior fabricante de cimento do mundo, o grupo franco-suíço LafargeHolcim se prepara para deixar o Brasil e espera vender seus ativos no país, que valeriam cerca de US$ 1,5 bilhão (o equivalente a R$ 8,35 bilhões), segundo informações da agência de notícias Bloomberg .

O grupo tem operações em nove estados nas regiões Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo), Nordeste (Bahia, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte) e Centro-Oeste (Goiás). Segundo o site da empresa, são dez plantas industriais e 1.400 funcionários no país.
“Eu realmente não consigo entender. Nunca o cimento vendeu tanto, nunca a expectativa futura de faturamento do setor foi tão boa”, disse.?

Segundo a Bloomberg, a LafargeHolcim contratou o banco Itaú BBA para fazer o desinvestimento, com a venda dos ativos locais a um comprador.

Se concretizada, a saída se soma ao movimento de outras multinacionais de diversos setores, como Sony , Ford , LG e Mercedes-Benz , que anunciaram desinvestimentos no Brasil nos últimos meses em meio à crise econômica no país.

“Não dá para apostar no crescimento de longo prazo do Brasil. As empresas não têm tempo a perder, vão privilegiar locais com crescimento mais forte. O Brasil está atrasado no processo de reformas e infraestrutura. As concessões têm acontecido com muito pouco crescimento de construção, de aeroportos prontos, sem um empuxo mais significativo para construção pesada. Brasil empobreceu e ficou caro”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

O atual diretor-executivo global do grupo, Jan Jenisch, tem adotado uma estratégia de vender ativos para a redução dos níveis de endividamento da companhia, ainda de acordo com a agência de notícias.

Desde 2018, por exemplo, a empresa vendeu uma série de ativos seus fora da Europa, como os localizados em Indonésia e Malásia.

Concentração de mercado
Atualmente, a LafargeHolcim é uma das maiores fabricantes de cimento do país. Uma venda da operação para um concorrente poderia ter dificuldade de passar no Cade (órgão antitruste brasileiro), que já agiu no passado para evitar a concentração de mercado e cartéis no setor.
Esse é o temor de Otto Nagami, professor do Insper. Ele alerta para o risco de a concentração do setor aumentar com a saída da empresa do Brasil, a terceira maior do mercado, o que pode favorecer a formação de oligopólios. Ele cita o déficit público com um fator a inibir a ação das empresas do setor no Brasil.
“O déficit público compromete a destinação da poupança doméstica para o investimento em infraestrutura”, afirma.

Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial (Iedi), afirma que a falta de crescimento da economia, com a construção pesada desorganizada desde os escândalos de corrupção, pode ter pesado na decisão da empresa.

“Por mais que tenha construção civil urbana, o eixo mobilizador é a construção pesada, é isso que mobiliza. E não tem investimento público em infraestrutura”.

Desvalorização do real
Cagnin cita também a desvalorização do real que tira lucro em dólar ou euro das multinacionais, que poderia ser compensado com crescimento, que não é o caso do Brasil.

“Além disso, economias maduras, como Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido estão anunciando investimentos pesados em infraestrutura, tecnologia. É um momento crucial, delicado e estratégico de reposicionamento das empresas globais”, ressalta.

O mercado da construção civil voltou a crescer em 2019 e se manteve em alta no ano passado em meio à pandemia, em boa medida devido ao pagamento do auxílio emergencial. Segundo o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic) , o mercado cresceu 11% em 2020. A alta foi de 19% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado.

Claudio Frischtak, da Inter.B Consultoria, afirma que a insegurança jurídica aumentou no Brasil, além da instabilidade macroeconômica e política:

“Isso pode explicar o motivo de se deixar um mercado do tamanho do Brasil, com excesso de demanda por residência nos próximos 20, 30 anos. Não parece uma decisão (de sair do país) óbvia”, afirma Frischtak.

A reportagem procurou a LafargeHolcim por meio de dois diretores, mas eles não se manifestaram a respeito da decisão da empresa.

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