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Dinheiro do petróleo está inundando a Guiana

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Desde que a ExxonMobil descobriu vastas reservas de petróleo na costa da Guiana em 2015, líderes do governo prometeram que o ouro negro transformaria a sorte de um dos países mais pobres da América do Sul.

Só neste ano, a economia da Guiana deve crescer 48%, a taxa mais rápida do planeta, segundo o Banco Mundial. Mas mal administrados, alertam especialistas em desenvolvimento e diplomatas, esses recursos alimentarão a política superaquecida e baseada em raças da Guiana, ao mesmo tempo em que adicionarão o país a uma longa lista de “petroestados” cuja população permaneceu pobre apesar da vasta riqueza de recursos.

Em maio, o governo da Guiana anunciou que havia usado pela primeira vez o fundo soberano que detém os royalties pagos pelos produtores de petróleo. Até o final do ano, os saques ultrapassarão US$ 600 milhões, um número que em breve chegará aos bilhões.

Até 2027, a Exxon e seus parceiros, a Hess e a chinesa CNOOC, pretendem bombear 1,2 milhão de barris por dia do fundo do mar da Guiana, tornando o país de longe o maior produtor per capita do mundo.

“Prepare-se para um fluxo maciço de receita ao governo com pouca experiência em como lidar com isso”, escreveram analistas da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional em um relatório divulgado no início deste ano.

Entrevistas com mais de 30 políticos, empresários, ativistas e cidadãos de todo o país mostraram tanto as aspirações animadas quanto as profundas ansiedades de uma nação à beira de uma transformação radical.

O atual governo, apoiado em grande parte por guianeses de ascendência indiana, diz que o boom do petróleo financiará um amplo desenvolvimento com foco em infraestrutura e educação para os cerca de 790 mil habitantes do país.

“Nosso compromisso como governo é garantir que as oportunidades sejam reais em todo o país, independentemente de onde se vive, independentemente de em quem alguém tenha votado”, disse o ministro das Finanças da Guiana, Ashni Singh, em entrevista.

Mas muitas comunidades, particularmente em áreas associadas à oposição afro-guianesa, estão céticas. Alguns reclamam que dinheiro e contratos já estão fluindo para apoiadores do governo e alegam que o partido no poder está instalando aliados em órgãos destinados a governar as novas riquezas da nação –alegações que os líderes da Guiana negam.

“O que eles estão tentando fazer é usar o petróleo para patrocínio político”, disse Aubrey Norton, legislador federal e chefe da oposição. “Não há visão”.

Grande oportunidade, momento complexo

Escondida entre a Venezuela e o Suriname, a política há muito tempo é volátil na Guiana, em parte devido à competição entre seus principais grupos étnicos.

Descendentes de escravos africanos compõem cerca de 30% da população. Outros 40% dos guianeses descendem de trabalhadores contratados da Índia. Os povos mestiços e ameríndios compõem em grande parte o restante.

O presidente Irfaan Ali, do Partido Progressista Popular (PPP), ligado principalmente aos indo-guianeses, assumiu o poder em 2020 após um impasse político de meses depois de uma eleição disputada.

Na legislatura, o PPP está agora em posição de tomar decisões cruciais sobre o futuro da nação graças a uma vantagem de dois assentos sobre a oposição, liderada por um grupo de partidos principalmente afro-guianeses conhecido como Parceria para a Unidade Nacional (APNU).

Nos últimos meses, os dois lados bateram de frente em todas as questões sobre como as contas crescentes do governo devem ser auditadas até as principais nomeações.

Mas talvez a disputa mais central tenha sido travada sobre como governar o Fundo de Recursos Naturais, o fundo soberano que detém os royalties do petróleo da Guiana.

Entre as apreensões dos opositores com a legislação atual, que entrou em vigor este ano, está que eles não têm o direito de indicar representantes para sua diretoria. Essa é uma grande preocupação em um país com um histórico de corrupção endêmica, dizem eles.

O governo chama essas preocupações de infundadas. Singh, o ministro das Finanças, disse à Reuters que uma proposta do governo anterior, do APNU, que comandou o país de 2015 a 2020, centralizaria o poder nas mãos do partido do governo em um grau ainda maior.

De qualquer forma, argumentou, as credenciais dos indicados ao conselho do governo são inquestionáveis. A oposição contra-ataca dizendo que isso não vem ao caso. Independentemente das qualificações de qualquer indivíduo, eles merecem um lugar à mesa.

“Quando todo mundo está de um lado, envia uma mensagem –e é a de que o fundo será politizado”, disse Vincent Adams, ex-regulador ambiental cuja indicação ao conselho pela oposição foi rejeitada pelo governo.

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