A ONG britânica Global Witness divulgou um estudo em que afirma que três grandes frigoríficos brasileiros (JBS, Marfrig e Minerva Foods) continuaram comprando gado diretamente de propriedades com desmatamento ilegal no Pará nos últimos 3 anos.
Segundo o levantamento, essas empresas compraram, entre 2017 e 2019, animais de 379 fazendas com cerca de 17 mil hectares (equivalente a 20 mil campos de futebol) de desmatamento ilegal, infringindo o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre Ministério Público Federal (MPF) e os frigoríficos.
O estudo da Global Witness, divulgado nessa quarta-feira (2), mostra que das 379 fazendas com desmatamento ilegal:
JBS comprou de 327 delas;
Marfrig, de 89;
Minerva Foods, de 16.
A Marfrig disse, em nota, que desativou sua única unidade no Pará em março deste ano e que não compra mais gado de propriedades do estado. E afirmou que, nos 89 casos indicados pela ONG, “não houve nenhum abate irregular por parte da companhia”.
A Minerva disse, também em nota, que, após saber do estudo, realizou um “levantamento detalhado” e que não encontrou “qualquer irregularidade alegada pela ONG”.
Ainda segundo a empresa, das 16 propriedades, 3 não estão no banco de fornecedores e que as outras 13 “atendem integralmente aos critérios de sustentabilidade” (leia as respostas completas no final do texto).
A JBS não respondeu ao G1 até a última atualização deste texto. À ONG, a empresa também negou irregularidades.
A investigação
A Global Witness afirma que obteve todas as guias de trânsito animal (GTA) de 2014 a 2019 no site da Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará) para identificar os fornecedores de gado de JBS, Marfrig e Minerva nesse período.
A GTA é exigida pelo governo federal para controle sanitário, pois o gado é transportado por todo o país. As guias mostram o movimento do gado desde o nascimento até o abate.
Com isso, a ONG diz que usou esses documentos para determinar as fazendas de origem de todo o gado comprado pelos frigoríficos e cruzou a área com bancos de dados governamentais, como os do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
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O grupo britânico contou com apoio do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) para verificar se o desmatamento nas fazendas era legal ou ilegal – isso porque, de acordo com o Código Florestal, cada propriedade localizada no bioma Amazônia pode desmatar até 20% de sua área, se tiver autorização para isso.
Os pesquisadores analisaram se o desmatamento das propriedades ocorreu após as datas-limite impostas pelo Termo de Ajustamento de Conduta entre as empresas e o MPF.
Se foi após a data-limite, foi checado se as fazendas pediram autorização para realizar desmatamento ao governo estadual.
“Nossa investigação demonstra claramente que um setor privado não regulamentado e com políticas voluntárias de não desmatamento não conseguiu lidar com a destruição da floresta”, disse em nota Chris Moye, Investigador Sênior da Amazônia na Global Witness.
Além de acusar as empresas, a Global Witness afirma que houve falha nos processos de auditorias contratados pelos frigoríficos, como os das empresas norueguesa DNV-GL e da americana Grant Thornton.
“Todos os envolvidos – fazendas que criam gado, gigantes da indústria da carne brasileira, auditores internacionais, financiadores tradicionais, supermercados, importadores e redes de fast-food – estão destruindo florestas tropicais, ou são cúmplices, com auditorias falhas realizadas por auditores americanos e europeus”, acrescenta.
Além disso, a ONG acusa JBS e Marfrig de comprarem gado de pecuaristas acusados pelo MPF de grilagem de terras, abusos de direitos humanos de povos indígenas e ativistas dos direitos à terra, além do assassinato de representantes de movimentos de trabalhadores sem terra.
Problema maior nos fornecedores indiretos
Além do problema com fornecedores diretos, o estudo afirma que outros 116 mil hectares (140 mil campos de futebol) de desmatamento ilegal foram feitos por fornecedores indiretos – fazendas que criam o gado e vendem para que outras propriedades engordem o animal e o venda aos frigoríficos.
O problema com fornecedores indiretos já fez o MPF afirmar ao G1 que não é possível garantir que a carne produzida na Amazônia é livre do desmatamento.
Para enfrentar o problema, JBS e Marfrig anunciaram neste ano iniciativas para controlar os fornecedores indiretos. As duas empresas prometem que, até 2025, vai mapear toda sua cadeia de fornecedores na Amazônia.
Para isso, as empresas vão exigir que os pecuaristas entreguem suas GTAs para que os frigoríficos possam analisar a origem do gado. A ideia é que isso crie um “cadastro positivo” de criadores.