Integrantes do núcleo pessoal de Jair Bolsonaro (PL) estão irritados com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e cobram dele uma atuação mais radical contra o Supremo Tribunal Federal (STF) – especialmente contra Alexandre de Moraes, relator de inquéritos contra o ex-presidente.
Tarcísio, entretanto, não só rechaça esse papel como atua como principal interlocutor entre os bolsonaristas radicais e o Supremo. Alinhado com a Corte, o governador foi quem tentou convencer Bolsonaro a reconhecer a derrota e desmobilizar golpistas que estavam bloqueando estradas após a eleição de 2022.
(Enquanto um Bolsonaro inconformado foi dormir após ser informado por militares de que não havia nada nas urnas que pudesse questionar o resultado da vitória de Lula (PT), Tarcísio prontamente reconheceu a vitória do petista.)
A interlocutores, o governador de São Paulo diz que Moraes é inteligente e obstinado, e que não se deve brigar, mas sim se unir ao ministro – como mostrou um perfil publicado neste fim de semana pelo jornal O Globo (a publicação colocou o bolsonarismo em polvorosa.)
Além disso, Tarcísio sempre exibiu boa relação com os integrantes do governo Lula. Conversou prontamente com o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB) – ex-governador de São Paulo – após ser eleito e elogia constantemente o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Até a Lula o governador faz elogios. Diz a interlocutores que o presidente sempre é muito carinhoso, que é impossível não rir das coisas que o petista diz – como quando o petista fez uma piada sobre as escolhas das meias de Alckmin durante um evento na Baixada Santista. As imagens de Tarcísio gargalhando irrigaram os bolsonaristas.
Para o núcleo duro de Bolsonaro, Tarcísio “se aproxima em momentos de crises, se afasta no dia a dia” e adota um estilo de morde e assopra.
Em meio às críticas, neste domingo (28), o governador acompanhou Bolsonaro em ato em Ribeirão Preto (SP) e postou um vídeo no X no qual afaga o ex-presidente, entoando um coro de “Volta, Bolsonaro.”
Tarcisio repete a quem quiser ouvir que é bolsonarista, mas que não é radical por não acreditar nesse tipo de política. Por isso, diz, tem boa relação com o STF e vai continuar a ter.
Para aliados do ex-presidente, o governador de SP sabe que não será candidato à presidência da República sem a benção de Bolsonaro e, por isso, equilibra-se entre gestos a radicais e movimentos que contrariam esse grupo ideológico.
No entorno de Lula, a postura é de monitoramento e atenção. Diz um estrategista do PT que Tarcisio tem um “comando maior” de campanha estruturado e pronto para disputar a presidência em 2026 – e que, quanto antes o governo do petista entender isso, maiores são as chances de reeleição.