O presidente Jair Bolsonaro fez apelos nesta quinta-feira (5) para que a Petrobras não volte a aumentar o preço dos combustíveis no Brasil. Aos gritos, durante uma transmissão ao vivo por redes sociais, o presidente afirmou que os lucros registrados recentemente pela empresa são “um estupro”, beneficiam estrangeiros e quem paga a conta é a população brasileira.
Bolsonaro fez as críticas pouco antes da divulgação pela Petrobras do resultado do primeiro trimestre, quando a empresa teve lucro de R$ 44,561 bilhões. Esse valor é 3.718% maior que o registrado no mesmo período do ano passado. Em todo o ano de 2021, a empresa, que tem a União como maior acionista, registrou lucro líquido recorde de R$ 106,6 bilhões.
Pré-candidato à reeleição neste ano, o presidente frequentemente pressiona a estatal a não efetuar reajustes nos preços dos combustíveis. Ele já demitiu dois presidentes da empresa (Roberto Castello Branco e Joaquim Silva e Luna) em razão de reajustes — motivados pela alta dos preços internacionais do petróleo e pela inflação. Na gestão do atual presidente, José Mauro Ferreira Coelho, não houve reajustes.
Castello Branco deixou o comando da empresa no início de 2021, após críticas de Bolsonaro a aumentos nos preços do gás de cozinha e do diesel. Ele foi substituído por Silva e Luna, que deixou a estatal no mês passado após a repercussão negativa do forte aumento nos preços dos combustíveis anunciado pela estatal em março.
“O Brasil, se tiver mais um aumento (no preços dos combustíveis), pode quebrar o Brasil. E o pessoal da Petrobras não entende, ou não quer entender. A gente sabe que tem leis. Mas a gente apela para a Petrobras que não aumente os preços”, disse Bolsonaro durante a “live”.
” Petrobras, estamos em guerra. Petrobras, não aumente mais o preço dos combustíveis. O lucro de vocês é um estupro, é um absurdo. Vocês não podem aumentar mais os preços dos combustíveis”, complementou.
Apelo
O presidente afirmou ainda que a Petrobras está “abusando do povo brasileiro” e que “é um crime” aumentar o preço do óleo diesel, combustível majoritariamente usado no transporte no Brasil.
Bolsonaro citou o ministro Bento Albuquerque, de Minas e Energia, e o presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho, com os quais disse que estará durante viagem à Guiana nesta sexta-feira (5).
“Vocês não podem, ministro Bento Albuquerque e senhor José Mauro, da Petrobras, não podem aumentar o preço do diesel. Não estou apelando, estou fazendo uma constatação levando-se em conta o lucro abusivo que vocês têm. Vocês não podem quebrar o Brasil. É um apelo agora: Petrobras, não quebre o Brasil, não aumente o preço do petróleo. Eu não posso intervir. Vocês têm lucro, têm gordura e têm o papel social da Petrobras definido na Constituição”, disse.
Segundo Bolsonaro, empresas petrolíferas multinacionais reduziram sua margem de lucro, que fica atualmente entre 10% e 15%, de acordo com o presidente. Na Petrobras, disse Bolsonaro, essa margem seria de 30%.
“Outras petroleiras do mundo, quase todas, diminuíram drasticamente o seu lucro. Vocês continuam em 30%. Outras petroleiras, até mesmo, estão tendo prejuízo. E olha só: vocês têm um nome a zelar. O nome da Petrobras vai para a lama se aumentar mais uma vez o preço do diesel. Eu apelo aqui à Petrobras, ao ministro de Minas e Energia que contenham, não aumentem o preço da Petrobras”, afirmou.
Inflação
A alta nos preços da gasolina, diesel e gás de cozinha tem contribuído para pressionar os preços dos demais produtos, o que gera críticas ao governo e a Bolsonaro.
A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 11,3% no acumulado em 12 meses até março. Já são 7 meses seguidos com a inflação anual acima dois dígitos.
A taxa registrada no Brasil permanece bem acima da média observada nas maiores economias do mundo.
Críticas à empresa
Em março, após a Petrobras anunciar um forte aumento nos preços dos combustíveis, Bolsonaro disse que a empresa registra lucro “absurdo” em um “momento atípico no mundo”. Disse também que ficou insatisfeito com o reajuste anunciado na época.
O aumento de março foi o último anunciado pela Petrobras. Desde então, já são 55 dias sem reajuste nos preços dos combustíveis.
A repercussão do forte aumento de preços em março levou Bolsonaro a demitir o general Joaquim Silva e Luna da presidência da Petrobras. No lugar dele assumiu José Mauro Ferreira Coelho.
Petróleo e guerra
A Petrobras adota para suas refinarias uma política de preços que se orienta pelas flutuações do preço do barril de petróleo no mercado internacional e pelo câmbio.
Nos últimos meses, o preço internacional do petróleo tem subido em especial devido às tensões provocadas pela guerra entre a Ucrânia e a Rússia, esse último um dos maiores produtores mundiais de petróleo.