A Prefeitura de São Paulo contabilizou nos seis primeiros dias de janeiro mais casos de Covid-19 do que os divulgados pela secretaria da Saúde para todo o estado de São Paulo no mesmo período. A discrepância indica que as informações para acompanhamento da pandemia ainda estão prejudicadas pelo apagão nos sistemas do Ministério da Saúde, porque os dados do estado deveriam superar os registrados apenas na capital.
A comparação foi feita pelo g1 utilizando dados dos sistemas Sivep-Gripe e e-SUS Notifica, de acordo com a extração disponibilizada nos sites oficiais da Secretaria Municipal de Saúde da capital e da Secretaria Estadual de Saúde do estado.
Entre os dias 1 e 6 de janeiro, o município de São Paulo notificou 10.163 casos com confirmação laboratorial para Covid-19. Já o governo do estado de São Paulo teve 8.374 casos notificados, em todo o estado, no mesmo período, segundo tabela da secretaria da Saúde, que utiliza os mesmos sistemas que a prefeitura da capital utiliza. A discrepância dos números continuou nos dias subsequentes, e os dados só não foram analisados porque foram disponibilizados na noite do dia 10.
Pesquisadores afirmam que as autoridades precisam esclarecer a razão de a capital ter mais registros do que o estado, uma vez que os números são registrados nas mesmas plataformas (entenda abaixo como funciona a notificação).
Em nota, o governo do estado não admitiu falhas na extração, e afirmou que cabe às prefeituras inserir os dados corretamente. Já a Prefeitura de São Paulo defendeu, em nota, que os números extraídos pela capital estão corretos, e que não teve problemas para inserir e baixar os registros (leia abaixo).
Tanto o balanço da prefeitura quanto o do estado eliminam notificações duplicadas entre os sistemas, ou seja, casos que foram registrados nas duas ferramentas do Ministério da Saúde.
De acordo com o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do programa Infogripe na Fiocruz, a divergência dá indícios de que os números reais da pandemia ainda não estão sendo divulgados corretamente. O problema pode ocorrer por falhas na extração decorrentes de erros no sistema do Ministério da Saúde.
Entenda como é feita a notificação
Os casos e mortes por Covid-19 são contabilizados no Brasil por meio de dois sistemas oficiais geridos pelo Ministério da Saúde: o Sivep-Gripe e o e-SUS Notifica.
e-SUS Notifica: contabiliza os casos considerados leves. Ou seja, casos classificados como Síndrome Gripal (SG) - em que a pessoa apresenta sintomas respiratórios, mas não há a necessidade de internação.
Sivep-Gripe: contabiliza os casos considerados graves. Ou seja, os classificados como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que necessitam de internação.
Até que os dados sejam divulgados nos boletins oficiais, eles seguem o seguinte caminho:
Após o atendimento do paciente, os profissionais de saúde preenchem uma ficha com as informações sobre o caso;
Os dados das fichas são inseridos no computador - pelo próprio profissional de saúde ou pelas secretarias municipais - nos sistemas e-SUS Notifica ou Sivep-Gripe;
A notificação nos sistemas podem ser inseridas com alguns dias de atraso;
As secretarias estaduais acessam, por meio de uma plataforma de gestor, os sistemas do Ministério da Saúde, e extraem os dados referentes às suas cidades;
Na sequência, alguns estados divulgam as informações em formato de boletim; outros disponibilizam também os dados brutos, como no caso de São Paulo;
Algumas prefeituras, como a da capital paulista, também fazem extração própria dos dados referentes às suas cidades;
O Ministério da Saúde faz a extração dos dados de todo o país, e divulga o boletim nacional;
Pesquisadores utilizam os dados brutos, extraídos pelo Ministério da Saúde, para fazer análises próprias sobre o avanço da pandemia. No entanto, eles não têm acesso direto ao sistema de gestor;