O Sistema Cantareira pode terminar o ano operando com menos de 30% de sua capacidade, de acordo com um prognóstico feito pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Este volume é semelhante aos 27,3% de dezembro de 2013, ano pré-crise hídrica, o que pode indicar desabastecimento em 2022.
Volume igual ou abaixo de 30% caracteriza a fase de alerta para a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Para ser considerado normal, o volume de um reservatório tem de estar com pelo menos 60% de sua capacidade.
Os baixos índices de chuva são responsáveis pelo atual volume de água no Sistema Cantareira. De janeiro até 15 de julho deste ano, o reservatório teve apenas 61% de chuvas em relação à média histórica, um déficit de 39%, de acordo com dados da Sabesp.
Na quarta-feira (21), o Cantareira operava com 42,4% de sua capacidade, segundo a companhia. O reservatório abastece 7,3 milhões de pessoas e é o principal fornecedor de água da Grande São Paulo.
Caso mantida esta condição de seca, a região metropolitana de São Paulo pode enfrentar uma crise de abastecimento de água no ano que vem, de acordo com especialista ouvido pelo G1.
Em nota, a Sabesp disse que sua projeção aponta níveis satisfatórios para os próximos meses, até 2022, mas a companhia não comenta a possibilidade de seca a partir de 2022
Projeção
Na parte superior do gráfico acima, podemos conferir a síntese da projeção do Cemaden, órgão do governo federal ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
A linha rosa representa o comportamento do Cantareira de janeiro a dezembro de 2020. Na ocasião, o sistema terminou o ano com 36% de sua capacidade de armazenamento.
Logo abaixo dela, a linha roxa representa o comportamento do sistema de janeiro a junho de 2021. Ele vai até 45%, volume que o Sistema Cantareira apresentava no momento em que a projeção foi feita.
A partir daí, temos uma previsão do volume a que pode chegar o Sistema Cantareira de acordo com as chuvas que caírem na região. Assim, se até o final do ano tivermos precipitação de chuvas:
Acima de 25% em relação à média histórica, o ano terminaria com o Cantareira operando com 53% de seu volume;
Se as chuvas ficarem dentro da média, o ano terminaria com 40% de volume no Cantareira;
Se as chuvas forem 25% abaixo da média, o Cantareira terminaria o ano com 29%;
Se as chuvas forem 50% abaixo da média, o Cantareira termina o ano com 20%;
Se o volume de chuvas for igual ao de 2013, ano pré-crise hídrica, o Cantareira chegaria ao final do ano com 25% de sua capacidade.
Como mostra o gráfico a seguir, a redução nas chuvas no Sistema Cantareira até agora foi de 39%, o que nos coloca entre o cenário de -25% e -50% de déficit de precipitação em relação à média histórica. Isso indica que chegaríamos ao final de 2021 com o reservatório operando entre 20% e 29% de sua capacidade.
A análise é do pesquisador Pedro Luiz Côrtes, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP.
“No Sistema Cantareira, até o último dia 15 de julho, verificou-se uma redução média de 39% nas chuvas de 2021 em comparação à média histórica. Baseado nas simulações do Cemaden e nos prognósticos climáticos disponíveis para o segundo semestre, é possível indicar que – mantendo-se essas condições – o Sistema Cantareira apresentará, em dezembro, um volume total abaixo de 30% e entrará na faixa de restrição”.
No primeiro trimestre deste ano, o volume de chuva na região que abastece o Sistema Cantareira foi o mais baixo desde o final da crise hídrica, em 2016, e ficou abaixo do registrado no primeiro trimestre de 2013.
Déficit em mais reservatórios
Depois do Cantareira, os dois maiores reservatórios que abastecem a região metropolitana também enfrentam déficit de chuvas.
O Alto Tietê, que abastece 5,2 milhões de pessoas, teve 68% de chuvas em relação à média histórica de janeiro até 15 de julho deste ano. Na quarta-feira (21), o reservatório operava com 51,1% de sua capacidade.